domingo, 6 de janeiro de 2008

Eça

"Acordei envolto num largo e doce silêncio. Era uma estação muito sossegada, muito varrida, com rosinhas brancas trepando pelas paredes - e outras rosas em moitas, num jardim, onde um tanquezinho abafado de limos dormia sob duas mimosas em flor que rescendiam. Um moço pálido, de paletó cor de mel, vergando a bengalinha contra o chão, contemplava pensativamente o comboio. Agachada rente à grade da horta, uma velha, diante da sua cesta de ovos, contava moedas de cobre no regaço. Sobre o telhado secavam abóboras. Por cima rebrilhava o profundo, rico e macio azul de que meus olhos andavam aguados.
Sacudi violentamente Jacinto:

- Acorda, homem, que estás na tua terra!

Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode, e veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra.

- Então é Portugal, hem?... Cheira bem.

- Está claro que cheira bem, animal!

A sineta tilintou languidamente. E o comboio deslizou, com descanso, como se passasse para seu regalo sobre as duas fitas de aço, assobiando e gozando a beleza da terra e do céu.
"

in "A Cidade e as Serras".


Espectáculo!

2 comentários:

Pitx disse...

tormes, concelho de baião.

norte.

(maria de lurdes guisado)

espectáculo!

Catwoman disse...

Apaixonei-me por Eça com esse livro, devia ter 13 anos, e depois li a colecção toda de seguida! Vivó Eça!