domingo, 25 de novembro de 2007

Ian Curtis


Nunca fui propriamente um fã dos Joy Division. Até há relativamente pouco tempo, pelo menos.


Na altura em que comecei a ouvir umas coisas de jeito, o meu primo e um amigo do Liceu tiveram um papel importante na minha "educação musical", digamos. Eles é que me foram mostrando grupos como os U2, os Waterboys, os New Order, os Echo & The Bunnymen, os Smiths, os Supertramp, os Dire Straits, os Simple Minds, entre muitos outros.

Na minha primeira ida à Feira da Ladra, lembro-me que comprei o maxi-single do "Shellshock", dos New Order (tinha três versões dessa música e mais o "Thieves Like Us"!), e esse amigo comprou o do "Atmosphere", dos Joy Division.

Lembro-me que o som deste último me pareceu muito diferente do que até então conhecia - principalmente a voz e quase toda a parte da percussão. Gostei imenso dessa música, devo dizer!

Mas talvez não me tenha agradado alguma coisa daquilo que lhes ouvi, posteriormente. Deve ter sido isso... Seja como for, não voltei a aprofundar o meu conhecimento sobre a primeira fase desses tais tipos de Manchester que, depois da morte do seu vocalista, se reagruparam como puderam e souberam - tendo daí nascido os New Order.

Estes últimos, sim! Destes comprei tudo. São o meu grupo, e não é preciso dizer mais nada.


Há uns três ou quatro anos, talvez, surgiu um filme sobre a "época dourada" da música de Manchester dos anos oitenta: o "24 Hour Party People", do Michael Winterbottom.

Para quem nunca viu, recomendo vivamente. Um must!

Por esse filme, que conta a história da editora Factory e do seu fundador, Tony Wilson, passam nomes com esses Joy Division, os New Order, os Happy Mondays, os Durutti Column, etc. Foram eles que ajudaram a elevar o nome de Manchester até onde chegou (mesmo que, anos mais tarde, tenha passado um bocado de moda; mas isso...).

É um filme muito interessante pelo retrato dessa época - independentemente da maior ou menor veracidade de algumas dessas histórias. E foi precisamente por causa de algumas delas que se reacendeu a minha curiosidade pelos Joy Division.

Comprei os seus dois álbuns de originais e fui absorver esta "nova" música. Devo dizer que gostei imenso do som que, finalmente, descobri!

Já sabia que as letras são sombrias, mas devo dizer também que nunca lhes liguei assim muito. O som era excelente, e isso, para mim, chegava. "She's Lost Control", "Transmission", "Love Will Tear Us Apart", "Dead Souls", "Decades", "Isolation", "New Dawn Fades" e, claro, "Atmosphere" - todas grandes músicas. E há algumas mais, atenção.

A partir daqui, fiquei fã.


Ontem, fui ver o "Control" - o filme que retrata a vida do vocalista e letrista do grupo, Ian Curtis. Já conhecia muitas das histórias aqui contadas e, por isso, já imaginava que fosse bastante triste. E, de facto, é. Mas gostei muito, como, de resto, alguém já tinha previsto...

Achei, e continuo a achar o título do filme demasiado irónico - é que, de "controlo", a vida daquele rapaz não teve quase nada!

A fotografia é excelente - sendo este filme realizado pelo fotógrafo Anton Corbijn (que já tinha dirigido o lindíssimo teledisco do "Atmosphere"), também era melhor... - a banda sonora é previsivelmente fantástica e todos os actores vão muitíssimo bem, quanto a mim.

A história é que é bastante dramática - foi baseada num livro escrito pela viúva do cantor, Deborah Curtis - "Touching From A Distance". É quase tudo escuro, opressivo...

Isto a somar ao preto-e-branco do filme... Meu Deus! Mas também, se foi assim, foi assim.

Estes Joy Division cantavam um "no future" que era, de resto, um espelho dessa época - que, em certas partes de Inglaterra, não deve ter sido nada fácil para muita gente, devo acrescentar.

Mas atenção: há momentos fantásticos! Ver um grupo de actores a interpretar (literalmente!) o "Transmission" numa recriação do show do Tony Wilson, na televisão, por exemplo, é um espectáculo! Só isto vale bem a ida ao cinema.

O fim é, embora muito triste, "poeticamente bonito", digamos. E acho que é uma grande homenagem à memória da pessoa criativa, frágil, atormentada e também doente que foi Ian Curtis.

Depois de ver o filme, percebe-se melhor o teor das letras das músicas que tocavam. E, diga-se de passagem, que ainda não consegui ouvir algumas delas, hoje...


Eu gostei muito. Mas não sei é se será para todos...

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