Conhecemo-nos durante o Liceu. Muitos jogavam snooker juntos. E encontrávamo-nos quase todos os dias no café.
Depois, fomos entrando na Faculdade. Acompanhámo-nos durante essa longa jornada, trabalhosa e muito enriquecedora das nossas vidas. Frequências, exames, namoros, separações, férias, fins-de-ano...
Mais tarde, começámos a trabalhar. Vieram os primeiros ordenados, os chefes, os colegas, as colegas, as reuniões, as deslocações, etc.
Mas íamo-nos sempre vendo, falando. Passámos, obviamente, de encontros quase diários a um encontro mais semanal, no mesmo café, mais lá para Sábado à tarde. Discutíamos política, futebol, as nossas empresas, enfim, de tudo um pouco.
Depois, começaram os casamentos e, com eles, vieram as mudanças de casa. O grupo começou a espalhar-se geograficamente. Começámos a ir jantar a casa desses, e a coisa começou a tornar-se mais adulta. É assim. E é giro.
A seguir, vieram os filhos. Fomos ao hospital, ou lá a casa, para conhecer estes novos amiguinhos. É o normal, digo eu. E ainda bem que assim é.
António, irmão, ainda não deu! Mas não falharei!!! :)
Mas, apesar de tudo isto, e de uma forma lenta, foi-se dissolvendo o nosso grupo de amigos.
Hoje em dia, já ninguém vai ao café. Isto acho normal. Entendo que seja difícil para a maioria - moram mais longe, já têm filhos, etc. O que já não percebo bem é a ausência de telefonemas, ou de e-mails, ou até de simples SMS's.
Dizia-me um deles, há bem pouco tempo, que já nem se lembra da última vez que alguém lhe telefonou a saber como estava.
Isto, num grupo de amigos, será normal? Se calhar, não será bem um grupo de "A"migos. Será mais de "a"migos, digamos...
Aqui há uns anos, li um texto de alguém que os "catalogava" de uma forma bastante curiosa. Colocava-os em prateleiras distintas, digamos assim. Era qualquer coisa do género: os Amigos, os amigos, os amigos de café, os conhecidos, etc. Se calhar, e pegando nesta ideia, se calhar não passamos de amigos de café...
Na parte que me toca, faço mea culpa. Obviamente que continuo a ir com imenso gosto aos aniversários dos que me convidam, assim como continuo a receber com a mesma alegria a presença dos que convido nas minhas jantaradas. São praticamente as únicas alturas em que falamos com mais consistência, digamos.
Mas não ligo tanto como devia. Ou como queria. No dia-a-dia. À noite. Ao fim-de-semana. E também não recebo telefonemas, ou e-mails, ou SMS's como seria normal num grupo de Amigos...
Sinto muito esta ausência, como que uma agonia - palavra forte, esta, mas que julgo que traduz bem o que se passa; ou melhor, o que não se passa.
Confesso que não entendo muito bem isto. Bem sei que estamos longe de ser as mesmas pessoas que se conheceram há mais de vinte anos (já???). Mudámos todos muitíssimo, o que é absolutamente natural. Mas, caramba?, nem sequer queremos saber uns dos outros? Será que já não interessamos? Acho que nem sequer há invejas, nem zangas que justifiquem esta separação... Ou há?
Nestas coisas da Amizade, acho que é preciso tratar dela, tipo planta. Regá-la. Há que telefonar, há que convidar, há que mandar mensagens... mesmo que seja, durante algum tempo, uma tarefa "unidireccional", digamos. Pode ser que, a partir daí, a coisa passe a "bi-direccional"... Se não passar, é pena. Resta a consolação de termos feito a nossa parte para que tal não acontecesse. Mas aconteceu. Será, pura e simplesmente, ir deixando ir, lentamente, pois ninguém gosta de continuar a puxar sozinho.
Restam os sub-grupos. Que existem sempre, em qualquer grupo de amigos.
Tenho pena, sinceramente.
Acho que está na altura de recomeçar a mandar e-mails...
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2 comentários:
Por acaso na semana passada escrevi exactamente sobre os mesmos sentimentos. Agonia é forte mas é o que realmente se sente e torna-se frustrante quando insistimos e não conseguimos respostas a um simples sms. É a imposição das "vidas" que nos vai cortando as pernas das amizades que julgava terem as ditas para andar. Não sei se é o mais correcto mas comecei entretanto a desistir da maios parte. Poucos mas bons.
Para tudo na vida, há múltiplos pontos de vista. O que designamos por realidade, para cada indivíduo, é fruto dessa visão. Por outras palavras, realidades são tantas como os indivíduos. Nós podemos mudar a realidade (entenda-se, a percepção do real) através da maneira como vemos o mundo.
A percepção não é uma “avaliação” absoluta mas sim relativa, baseando-se na comparação do real com padrões de referência pessoais. Com base no referencial que escolhemos (voluntária ou involuntariamente), resultam diferentes avaliações / percepções.
Podemos comparar o real com o que gostaríamos que fosse, com o que foi num passado presente ou com o que foi num passado distante. Dos diferentes referenciais resultam visões diferentes, umas tristes outras calorosas. No caso particular podes comparar com o que gostarias que fosse o real, e devido ao teu padrão de exigência elevado, a visão resulta triste. Eu prefiro a referência de um passado recente (digamos um ano), em que não tínhamos qualquer contacto uns com os outros, em que não havia jantares, daí resultando uma visão alegre.
Eu não quero tudo; basta-me um pouco mais. Há um ano não sabia de ti (e de todos os outros), nem deixava comentários aos post (vale um SMS não vale?). Já é mais do que tinha.
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