terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Junho de 2004


Não gosto assim lá muito das músicas que a Nelly Furtado normalmente canta, devo dizer. Nem de motas. Nem de cavalos. Nem de grandes multidões (bem, disto ninguém gosta...).

Mas a verdade é que sempre que revejo, como ontem e hoje, na SIC, aquelas imagens das deslocações do autocarro da Selecção Nacional de Futebol desde a Academia de Alcochete até aos estádios da Luz e de Alvalade, durante a fantástica campanha do Euro 2004 - com aquela música da Nelly Furtado a tocar em fundo e com aqueles milhares de adeptos de mota, de barco, a cavalo, a pé, à beira da estrada, nas pontes, nos viadutos, em todo o lado! (praticamente impedindo a circulação de mais qualquer coisa com rodas, e deixando apenas espaço para aquele autocarro), a gritarem para eles e por eles, por nós, por todos nós - não consigo deixar de esboçar um daqueles sorrisos meio tristes-meio alegres, os meus olhos enchem-se de água, o peito aperta-se-me (mesmo!) e fico sem conseguir falar normalmente durante um ou dois minutos.

E o que mais me surpreende é que nunca, mas nunca!, me farto de rever essas imagens. Mais: eu quero revê-las!


Elas mostram bem (além, claro está, da enorme pancada que temos) que nós, os Portugueses, desde que devidamente motivados, somos, muito provavelmente, únicos na capacidade de mobilização e no empenho em atingir um objectivo.

Será por isto que os nossos emigrantes (todos eles, de facto; sem excepção) têm tão bons desempenhos "lá fora"? Porque será que, "lá fora", nos sentimos, de uma maneira geral, mais motivados do que cá? Será que é só de motivação que se trata? Ou será que, "lá fora", quando se trabalha, trabalha-se a sério e que, por cá, misturamos o trabalho com uns bocadinhos de cognac durante o dia?

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É realmente uma pena não nos envolvermos e empenharmos daquela maneira noutras actividades, cá no burgo; acho que teríamos muito a ganhar, se assim fosse.

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No fim, perdemos. Mas que se lixe! Se o preço a pagar por ver "aquele" (este!) país, aquelas almas tão empenhadas, dedicadas, absorvidas, obcecadas, muitas vezes completamente loucas, a torcer/sofrer/lutar daquela maneira para, trabalhando em equipa (jogadores e todos nós) procurar vencer, se o preço a pagar era a derrota, pois que seja. Eu, por mim, pago.

Dói. E, na altura, doeu ainda mais! Afinal de contas, perder uma final em casa "é dose". Mas pago.

Ficámos a saber como se sentiram os brasileiros em 1950, quando perderam a Final do Campeonato do Mundo de Futebol em casa, contra o Uruguai, em pleno Maracanã! - que foi construído especialmente para esse evento...


E que dizer daquele Portugal-Inglaterra, visto no "estádio da Inês e do Luís", e do qual perdi o primeiro golo beef (ouvido no rádio do carro numa fila da A5, a caminho do tal "estádio")? ...

Mas, felizmente, vi tudo o resto - os outros golos, o prolongamento, a decisão. Tudinho. Sofri aquilo tudo. Sofremos! E, dessa vez, vencemos!

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Do dia desse jogo, guardo igualmente outra enorme emoção: o relato (que ouvi a posteriori) dos penalties, feito pela equipa da TSF onde pontificava, nessa noite (como em tantas outras) o saudoso Jorge Perestrelo.

Jorge, fazes cá muita falta!

Juntamente com o relato do golo decisivo do Miguel Garcia no AZ Alkmaar-Sporting da meia-final da Taça UEFA de 2005, no último minuto do prolongamento, foram as mais emocionantes exteriorizações de alegria que alguma vez ouvi em bola-na-rádio.

E, sinceramente, duvido que volte a ouvir algo parecido, sequer.

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Quem viveu aquele mês de Junho de 2004 como todos nós vivemos, desde o Minho até ao Algarve, às Ilhas, a França, à Suíça e a todos os (muitos) outros cantos do mundo onde há Portugueses amantes do desporto-rei, acho que nunca mais vai esquecer aquele Portugal.


É bom lembrar que nós também somos "aquilo" tudo. Especialmente nestas alturas, em que as coisas não andam assim lá muito bem.

1 comentário:

Pitx disse...

estive para fazer um post depois de ver o mesmo que tu viste lá na sic. mas não, tenho de me conter cada vez que queira fazer posts pouco abonatórios ao scolari.

já deu para perceber em portugal - no norte então, ui!... - que se uma pessoa for mal educada, bruta e arrogante, desde que tenha algumas outras características que eu cá sei, até contra san marino pode perder.

adiante. sabes de que cor é o meu coração, não sabes? pois, acredita que mesmo assim, das coisas que mais me arrepia quando re-ouço (existirá?) a locução do golo do garcia é precisamente saber que o jorge era benfiquista. e dos roxos!

faz o seguinte, esquece-te que és lagarto (tenta, vá), volta a ouvir o relato desse golo e tenta imaginar um benfiquista a relatar assim como ele relatou (tantos relatos numa só frase. que erudição!).

era mesmo o maior, não era?