quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

26 de Dezembro

Desde há uns anos que faço questão de ir trabalhar no dia 26 de Dezembro.

Era o dia de aniversário do meu querido avô - um Homem que teve uma vida de trabalho como não conheço igual. É, apenas, uma pequena homenagem que lhe presto, e que me diz mais do que qualquer outra que lhe pudesse fazer.


Tenho muitas saudades dele. E muitas boas lembranças, também.

Fartei-me de escrever à máquina no escritório da sua casa da Madredeus, nos inúmeros fins-de-semana que lá passei! E foi nas ruas desse “seu” bairro que me ensinou a andar de bicicleta, depois de eu já dominar todos os segredos da Nobre Arte de Andar de Triciclo.

Foi com ele que fui vezes sem conta ao futebol, depois de me ter “estreado” nessas andanças com o meu Pai, numa vitória do Sporting sobre o Vitória de Guimarães (em setenta e oito ou setenta e nove) por dois a zero, em Alvalade.

Na fase de qualificação para o Europeu de Futebol de ’84, foi com ele que vi, no alto dos meus onze anos, na Luz, os jogos Portugal – Polónia e Portugal – Rússia (vencemos ambos!), dos quais cheguei completamente rouco a casa depois da gritaria pela nossa selecção! Deste último, lembro-me do penalty que nos deu a vitória – na sequência de uma falta (julgo que sobre o Chalana) que foi “mais ou menos dentro da área”…

Foi com esse golo que conseguimos a qualificação para a fase final, em França, onde tivemos um desempenho fantástico – caímos aos pés dos anfitriões, numa derrota muito dolorosa por três a dois, nas meias-finais da prova (depois de termos estado a vencer por duas vezes…).

Vimos muitos jogos em Alvalade - entre eles, destaco um electrizante Sporting – Porto que terminou em 3-3! E fomos também algumas vezes aos estádios do Restelo e da Luz, ver jogos do Belenenses e do Benfica (não gozem!).

Foi também com o meu avô que me estreei nas corridas de touros, tendo tido a sorte de ver muitos dos grandes nomes do toureio equestre mais recente (José João Zoio, João Moura, a família Telles, Paulo Caetano, Rui Salvador, Manuel Jorge de Oliveira – que ele muito apreciava –, Joaquim Bastinhas – encolhia os ombros quando via os pares de bandarilhas – e muitos outros).

Tinha um pequeno anexo - "a casinha" - nas traseiras do quintal da sua casa, onde dominava uma bancada com tornos e vários armários e gavetas que guardavam diversos serrotes, limas, grosas, colas e muitas outras ferramentas. Trabalhava a madeira de uma forma superior - tinha um jeito para trabalhos manuais como não voltei a encontrar numa pessoa.

Lembro-me de um biplano e um barco à vela que ele me fez que eram dois dos meus brinquedos favoritos! E muitos dos diversos utensílios de madeira que ainda hoje tenho em casa – caixas, bancos, etc. – foi ele quem os fez.

Era um leitor compulsivo - andava sempre agarrado a um jornal! - e foi ele que me incutiu o gosto pelos chamados “livros de consulta” - muitos dos que tenho foi ele quem mos deu! Até a forma de folhear os dicionários à procura dos significados das palavras mais difíceis foi ele quem ma ensinou! :)

E que grandes bigodes que me dava a jogar às damas! Acabava quase sempre com um “porquinho”, lembra-se? … Ahahahah!

Não sei se alguma vez lhe ganhei, agora que penso nisso…

Uma vez em que fomos à Feira do Livro, comprou-me uma colecção completa de seis livros de uma série de aventuras (tipo-Os Cinco) que eu muito queria. Li-a e reli-a vezes sem conta! Mas a "estafa" desse passeio foi tão grande que, com o calor que estava, assim que chegou a casa, adormeceu... Os meus pais (que tinham também saído), quando chegaram a casa e o viram assim a descansar e a mim a ler, sorriram. :)

Fez questão de me pagar todos os livros de estudo de que necessitei. Todos. Sem excepção! Desde a primária até à faculdade. E está-me aqui atravessado o facto de, por apenas dois meses, não ter podido viver a felicidade de ver o neto formado...

Foi uma das primeiras razões que me fez zangar seriamente com Deus.

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Curiosamente, lembrei-me agora de uma frase que ouvi, no outro dia, ao António Lobo Antunes, quando este falava com o Mário Crespo sobre a revolta que sentiu quando viu, pela primeira vez, as crianças em tratamentos no IPO:

- "Deus também existe para que eu me possa zangar com ele".

Aplica-se que nem uma luva, neste caso.


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Juntamente com os meus pais, sempre me fez ver que do estudo só resultam coisas boas.

Faria hoje noventa e sete anos.


Um beijinho grande, avô! Tento, diariamente, estar à altura dos ensinamentos que me deu, e aplicá-los sempre que possível. E só tenho pena que não esteja aqui para conversarmos sobre tudo e mais alguma coisa, como tanto gostava de fazer.

Mas, vendo bem as coisas, até está.

4 comentários:

Pitx disse...

mano, faz-me um favor, lê outra vez o este teu post.

já leste? tem lá paciência, lê o lá outra vez?

leste? leste mesmo? não me estás a enganar nem nada?

pronto, ok, acredito. se o dizes...

sabes, é que acho que não escreverás no futuro muitos posts como este.

vale uma aposta?

Eva Shanti disse...

Não estiveste só com estes pensamentos no dia 26 de Dezembro.
Aliás, lembro-me dele muitas vezes, talvez muitas mais do que possas supor.
Sinto que esteja onde estiver, o Avô olha por nós.

Bjs

Catwoman disse...

Quase me fizeste chorar...Este ano, como sabes, também morreu a minha querida avó Carolina, de quem só guardo boas recordações e exemplos. Também faleceu um mês antes de eu me formar, e ela propria comentou com a minha avó Júlia que infelizmente já não "chegaria a vê-lo".
E o primeiro natal sem ela... Felizes dos que temos avós assim!

Gonçalves disse...

Feliz 2008